Como foi
dito no meu texto de estreia deste blog, desde criança eu sempre gostei muito
de inventar histórias. As histórias que eu criava quando era criança quase
sempre misturavam muita aventura com um pouco de comédia e seguiam mais ou
menos o mesmo estilo dos desenhos animados e filmes infanto-juvenis que eu
assistia na época. Apesar disso (ou seria justamente por isso?), durante grande
parte da minha infância o meu filme favorito foi Forrest Gump - O contador de histórias (1994), longa-metragem
dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks, que não contava
exatamente uma história infantil de aventura, mas que me tocou profundamente na
época.
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Tom Hanks, o eterno Forrest Gump |
Eu vi
Forrest Gump... três vezes até hoje
(acho que em breve assistirei pela 4ª vez) e uma das coisas que mais me
chamaram a atenção no filme, além do ótimo roteiro, das excelentes atuações e das
imagens impactantes, foi a mudança na forma como eu vi o filme em cada uma
dessas ocasiões (por isso estou em dúvida se assisto ao filme logo ou se
resisto à tentação e deixo para vê-lo daqui a alguns anos). A primeira vez que
assisti à Forrest Gump... foi em
casa, com os meus pais, quando o filme passou pela primeira vez na TV Globo em
uma sessão noturna de filmes (provavelmente na Tela Quente, no dia 29/12/1997,
de acordo com esse site). Eu lembro de ter gostado muito do filme (meus pais
não gostam muito de filmes e não prestaram atenção em toda a história, mas a
minha mãe pareceu ter gostado de algumas cenas), que, na minha visão de menino
de nove anos de idade, contava a história de um sujeito legal e meio bobão que
passava por uma série de situações inusitadas (quase é recusado pelo diretor da
escola por ter um QI abaixo da média, sofre bullying na infância por conta de um
aparelhos estranho que usa nas pernas, se torna jogador de futebol americano,
testemunha o escândalo do Watergate, vai para a Guerra do Vietnã, participa dos
jogos olímpicos como jogador de pingue-pongue, conhece importantes músicos e
políticos etc), mas não cheguei a ter uma percepção muito ampla de todos os
sentimentos e do impacto das experiências vividas por Forrest Gump por ter
pouca maturidade (e conhecimento de história) para isso.
A segunda
vez que vi Forrest Gump... foi bem
mais marcante, pois eu já era mais velho (acho que eu tinha uns 12 anos de
idade) e tinha um pouco mais de maturidade para entender alguns elementos da
trama que não poderiam ser compreendidos por uma criança comum de 9 anos de
idade. Além disso, eu estava vendo o filme com uma prima que tinha a mesma
idade que eu e pudemos trocar opiniões sobre o filme. Nessa vez, eu lembro que Forrest Gump... foi exibido na Sessão de
Sábado e que eu e minha prima havíamos perdido os primeiros minutos do filme,
porém como eu me lembrava bastante do início da história e nós tínhamos à disposição
a sinopse do filme publicada no guia de TV do jornal, isso não prejudicou o
entendimento do filme. Dessa vez, eu entendi um pouco melhor os sentimentos de
amizade (estava assistindo ao filme com uma prima que era a minha melhor amiga
na época), amor (já tinha me apaixonado algumas vezes), discriminação (já havia
passado pela experiência de ser considerado um "estranho" por todos),
de perda (um primo de apenas 15 anos havia cometido suicídio) e de impotência diante
das circunstâncias da vida, e Forrest Gump se tornou uma espécie de herói
pessoal para mim, que nunca fui um grande fã do Batman, do Homem-Aranha e do
Super-Homem (embora acompanhasse os filmes, séries e desenhos desses super-heróis
na época). Entretanto, ainda havia alguns resquícios de infantilidade na visão
que eu tinha do filme, pois eu lembro que eu e minha prima discutimos durante
alguns minutos se o gênero do filme era drama, como constava no guia de TV do
jornal, ou se era aventura.
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Tenente Dan Taylor (Gary Sinise) e as pernas da discórdia |
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"A árvore dos sonhos" (1994), com Kevin Costner e Elijah Wood |
Depois
disso, eu fiquei vários anos sem rever Forrest
Gump... e, nesse meio-tempo, acabei vendo outros filmes bons (pelo menos
foi o que eu achei na época) que tiraram temporariamente Forrest Gump... do topo da minha lista de filmes favoritos (esses
filmes eram A árvore dos sonhos, Os sete suspeitos e Il ciclone - Amor e Paixão, todos filmes meio "lado B"
que não chegam as pés de Forrest Gump - O
contador de histórias). Não preciso dizer que, após uma revisão desses
filmes, parte do encanto que eles exerceram sobre mim se desfez e hoje em dia
eu teria até um pouco de constrangimento de recomendá-los a alguém (hum... A árvore dos sonhos tem suas qualidades e
alguns elementos do filme lembram um pouco Forrest
Gump..., mas Os sete suspeitos é
um filme bastante datado e Il ciclone -
Amor e Paixão tem um ar cafona e um humor que, por vezes, acaba sendo
bastante forçado). Com isso, me veio a vontade de rever Forrest Gump... pra conferir se, ao contrário desses três filmes,
ele conseguiria me encantar do mesmo jeito que me encantou na infância e na
pré-adolescência.
No ano
passado, durante uma viagem para Curitiba onde fui assistir a um show do
Matchbox Twenty (minha banda favorita há vários anos e que não tenho constrangimento
algum em recomendá-la a alguém), fiquei com vontade de comprar algum CD ou DVD
da banda para levar de lembrança da viagem e fui a várias lojas. Não encontrei
nada do Matchbox Twenty em nenhuma das lojas visitadas, mas encontrei ̶
adivinhe só ̶ uma edição especial do filme Forrest Gump - O contador de histórias à
venda. O kit vinha com dois DVDs, um com o filme e outro com vários extras
(testes com alguns atores, bastidores do filme, depoimentos da equipe técnica e
de atores etc) e fiquei com muita vontade de ver o filme assim que chegasse de
viagem, mas tive vários compromissos pessoais que me ocuparam os dois primeiros
dias (contar pra toda a família como foi a viagem foi o principal deles) e me fariam
ter que adiar a revisão do filme em uma semana, pois já era domingo de noite e
eu teria a semana seguinte ocupada com a volta ao trabalho e à faculdade. No
domingo à noite, hora em que eu já deveria estar indo dormir para acordar cedo
no dia seguinte, eu não resisti e quis dar uma olhadinha no filme, nem que
fosse só pra ver os primeiros 15 minutinhos. Acabei vendo os primeiros 15
minutos, os outros 127 e mais alguns extras.
Nessa
terceira vez que assisti à Forrest Gump -
O contador de histórias, o meu encanto não se manteve o mesmo das outras
duas vezes: ele se renovou. Eu vi outro filme, com diálogos muito mais profundos
e intensos (vi o filme em versão legendada, com a voz dos atores originais ao
invés dos dubladores, o que só ressaltou o enorme talento de Tom Hanks, Robin
Wright, Sally Field, Gary Sinise e de todo o elenco), com uma trama muito
criativa, inteligente e bem entrelaçada (agora já sabia o que era Watergate e
Apple) e com uma história que tinha outro sentido para mim. Pela primeira vez
eu chorei vendo Forrest Gump... (eu
raramente choro vendo filmes) e constatei que, apesar de algumas cenas
engraçadas, do tom tragicômico do protagonista e das grandes aventuras vividas
por ele, a minha prima tinha razão e Forrest
Gump... é, na sua essência, um filme dramático, mas com um pouco de humor e
aventura. Mais ou menos como é a vida de quase todo mundo.
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Eis o segredo do sumiço das pernas |
Quanto à
discussão sobre as pernas do Gary Sinise, aí quem tinha razão era eu. O ator
realmente tinha pernas e as cenas nas quais ele aparecia sem elas foram feitas
graças a um excelente truque no qual as pernas dele era cobertas com meias
azuis e removidas digitalmente. Nas várias cenas nas quais os cotocos do
personagem passavam perto de objetos como mesas e camas, eram feitas duas
filmagens: uma com o ator passando com suas pernas no local onde estaria o
objeto (sem o objeto em cena ou com parte dele removida) e outra do cenário sem
o ator, mas com o objeto no local. Então as imagens eram sobrepostas e, assim, foram
construídas as ótimas cenas do tenente Dan sem as pernas.
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Forrest Gump (Tom Hanks), tenente Dan (Gary Sinise) e Bubba (Mykelti Williamson) - No filme e 20 anos depois |
Hoje, Forrest Gump - O contador de histórias
completou 20 anos de lançamento e continua sendo visto e revisto por fãs do
mundo inteiro. Para quem, assim como eu, viu Forrest Gump - O contador de histórias várias vezes em diferentes
momentos da vida, tenho certeza de que em cada uma dessas vezes o filme teve um
significado diferente. O filme foi indicado ao Oscar de 1995 em 13 categorias e
saiu vitorioso em seis: Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator para Tom
Hanks, Melhor Roteiro Adaptado (o filme é baseado em um livro de 1985 chamado Forrest Gump, mas o livro, pelas
sinopses e comentários que eu li na internet, parece ser muito inferior ao
filme), Melhor Edição e Melhores Efeitos Visuais. Além disso, faturou três
Globos de Ouro e dezenas de outros prêmios importantes; mas a maior honraria de
todas, sem sombra de dúvida, foi a de ter se tornado um filme inesquecível.
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Qual é o seu filme favorito? Tem algum filme que, a cada vez que você assiste, ele parecer ter um significado novo pra você? Você já viu Forrest Gump - O contador de histórias? O que achou do filme? Sinta-se à vontade para responder nos comentários.
Abraços!
Uma bela crítica. Aliás, a trama desse filme é incrível (vamos ser sinceros). O fato de relacionarem perfeitamente a história de um homem ingênuo, humilde, corajoso, amigo, etc. que "cruza" com vários fatos que marcaram a história dos Estados Unidos é extremamente inovador. O retrato de como a vida pode nos surpreender, com situações inesperadas (+/-), e que cabe a nós lidarmos com elas é fantástico. Sem duvidas o filme é sensacional. Parabéns pelo seu texto.
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